quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Tons

O sol já raiava através das persianas, nos dias ensolarados, sua maior rival. Pincelava o quarto em um degrade de tons alaranjados, como uma laranja descascada aos poucos, saboreada. Não recordava muito do que acontecera na noite anterior, apenas que acordara entre aquela branquidão de panos de cama, lívidos e com toques finos de lavanda.

Seu desjejum matinal foi rápido. Seus olhos batalhavam entre a fumaça de uma convidativa xícara de café e seu movimento pendular, da mesa a boca e os ponteiros acelerados do relógio da cozinha. Estava atrasado. Saiu de casa. Caminhando até o trabalho com a visão turva ocasionada pelo sono e o com o peso das olheiras, negras, delineando seus jovens olhos.
Chegara e, inevitavelmente, encontrou aquela que tanto amava. Jurara não ter que a encontrar tantas vezes como antigamente, porém, o ambiente de trabalho era compartilhado e isso dificultava as ações evasivas. Estava ali, sentada em sua mesa de trabalho, o tilintar rápido das teclas era como uma barreira que impedia a aproximação para um singelo - “oi”.
Foi então que o laranja vivo que o pintava, degradava para cores frias, assim como a reação da amada. Dúvidas iam e vinham, como pesadas ondas quebrando em uma rocha, monólito em que seu coração se transformava seu coração. De tons quentes para tons frios, cinzas, tudo se tornava unicolor, desabando a falácia em que acreditava. Seria agora um novo começo ou os tons frios despencariam ainda mais para o negro do limbo?